sábado, 2 de abril de 2016

Sofro de TRANSTORNO BIPOLAR! Resolvi falar sobre isso! Um muito obrigada a quem aceitar me escutar.

Vamos adicionar ao caldeirão efervecente da minha vida um pouco da escrita, tendo sido ela referencia do que sou, ou mesmo, fruto de raivas, perfeccionismo desmedido, alegrias, orgulho, vergonha, mas tão minha e mais minha entre o tudo do pouco que agora possuo.
Parei de ler e escrever e era um vício insanamente delicioso... Insana a mente que de repente, como que por encanto e no pesar do pranto, não consegue mais fazer aquilo que melhor fazia antes. Já não dança, não mais escreve, não se perde em personagens de si mesma. Essa  é a maior tristeza. Sem "tons de cinza", descolorida, (des) gostosa já foi a vida?
E eis então, além de ser o maior dos desabafos, de todas as exposições, a minha confissão: EU SOFRO DE UMA PSICOPATOLOGIA CONHECIDA COMO TRANSTORNO BIPOLAR.
E me sinto na responsabilidade, como um ato de cidadania, de explicar do que se trata, para que quem sabe assim, se minimizem os preconceitos. Sim, eles existem e muito. Se a pessoa acometida desse transtorno, já vive em sofrimento, coloque nesse tempero (lembra do caldeirão?) o olhar torto, as falsas verdades, os conselhos carregados de julgamentos, os memes da internet,  confesso que já ri com alguns. Mas, e quem não riu? E quem se magoou,? E quem por conta disso perdeu o pequeno sopro de esperança, conquistado a duras penas com muito medicamento e terapia?
Ano passado em plena sala de aula, (lembrando que estudo psicologia), um professor discursou em alto e bom som sobre como era "horrível" lidar com alguém acometido da bipolaridade, disse, ainda, que preferia lidar com psicopatia a lidar com um bipolar. Me senti um lixo. Tentei entender, porque existem vários graus diferentes da enfermidade. Me entristeceu saber que uma pessoa que supostamente está  preparada para lidar com a dor do outro, diz assim, tão facilmente, com tamanho desdém, a futuros psicólogos, seus alunos, que ser bipolar é "terrível", que  "eles", os bipolares são péssimos... E nos ensinam sobre empatia...Enfim, se o preconceito foi parar nas salas de aula do curso de psicologia, imaginem o desespero...,
Tenho 39 anos, tenho família, amigos, e muita história para contar porque costumo viver intensamente minhas relações de afeto, aquelas que decidimos viver com pessoas queridas por nós. Tenho uma profissão, sou graduada para exerce-la e pelo mérito de ter estudado o tempo exigido e provado, através de meu esforço, que sou apta a exerce-la. Sou jornalista de formação! Apesar de não exercer a profissão atualmente, não deixo, porém, de faze-la por aqui.
Não acordo rindo e dali meia hora estou chorando, como é senso comum ao dizer do "bipolar". Alterno longos períodos depressivos com picos de ansiedade extrema, chamados de mania ou hipomania, que no meu caso duram pouco tempo e não tem nada de legal, nem doidão ou feliz. Se imagine prestes a entrar naquela montanha russa cheia de loopings e aquela sensação de estar subindo bem devagar para uma queda brusca. É essa a sensação, não da queda, nem de estar de ponta cabeça, mas a sensação de pavor e impotência que antecede essa experiencia. É isso que sentimos. E é muito ruim. Ainda que possamos estar mais destemidos, extrovertidos, estamos como bem traduz minha irmã com o "coração galopante", achando que respirar é um fardo porque é muito respirar, é muito pensar é muito ser, é muito tudo.
Isso quando não estamos de cama, sentindo uma angustia desmedida e uma tristeza paralisante. Ela te paralisa, acreditem, tomar banho dói. Isso tudo sem que possamos nos internar para um tratamento, tendo que existir "normalmente" no dia a dia a cumprir um papel que não estamos em condições de que seja feito. Um papel rasgado, pisoteado, amassado, a cada hora, cada minuto, todos os dias.
Mas, ah! Levanta daí, por que você está assim? Vamos sair você melhora! É preguiça! Devia levar uma surra, queria ver se umas chineladas não resolviam. Vai carpir uma data! Isso é falta de pênis, ou de vagina (e estou sendo respeitosa com vocês, porque os termos são bem mais pejorativos). Estes são alguns dizeres "carinhosos" sobre estar muito deprimido, ou no ápice de uma crise de ansiedade, é isso que se diz a alguém que está doente! E aí eu pergunto, ainda que redundante: é isso que se diz a alguém que está doente?
Possuímos cortes invisíveis em partes do corpo, porque pode ser aquela dor no peito, a garganta muito apertada, a hemorragia da alma, ninguém vê, não se examina em máquinas modernas, mas dói tão ou mais do que uma facada no peito, uma doença dolorosa, invisível e que deixa sequelas a cada crise. Passamos mal em silênico, isso quando a coisa não fica psicossomática e os sintomas físicos aparecem também, o rosto "emperebado", 10 kilos a mais, ou a menos, sem sono, sem soro, sem anestesia. Apenas com aquela porção maior e que muitas vezes e infelizmente não é suficiente, mas que seja, sempre, de dizer: eu posso! Eu consigo! Eu não sou. Eu não tenho. Eu apenas estou!
Salve! Mil vezes salve aqueles que fazem do seu oficio o nos ajudar. Aquele alienígena que caiu no meu colo ano passado, chamado psicologia! Você é lindo estrangeiro e sou grata por tudo o que sei que pode fazer por todos nós. Devemos também nos render em homenagem a uma farmacologia cada vez mais eficiente, a nos ajudar a aliviar sintomas, enquanto tentamos entender tudo isso. E entendendo vamos fazendo da dor, menos dor, cada vez menos desamor, cada vez mais inspirador, animador, amar,compreender, amor!  

4 comentários:

  1. Muito bom Drika. Abordar esse tema é relevante aos poucos que passam pela bipolaridade ou respectivamente a entendem. Parabéns. Grande abraço.

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    1. Obrigada Clayton! Espero ser fonte de inspiração sim! E que a arte seja sempre um alento! Bjos

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  2. Parabéns!!! Pela autenticidade e coragem.. Continue usando a sua escrita para informar as pessoas sobre essa condição que é comum a tantos e entendida por tão poucos... só assim conseguirá desmistificar, inclusive para os profissionais (?), colaborando na construção de uma prática mais humana! beijos

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    1. Obrigada Ana!Foi libertador poder falar sobre isso. Espero que minha pequena parte seja um pouco de informar, formar ou reformar... Qualquer uma delas já será de grande valor...
      Você faz falta! Sempre grata pelo cuidado... bjos

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